Jovens concordam com aumento da idade legal para aos 18 anos mas duvidam da sua eficácia
A maioria dos jovens concorda com a decisão do Governo em subir a idade mínima para a compra/consumo de álcool dos 16 para os 18 anos, ainda que considerem que a nova lei não vai mudar nada. Esta é a principal conclusão que se pode retirar do inquérito que o Alcoolímetro fez nas ruas do Bairro Alto a 15 jovens: oito raparigas e sete rapazes com idades compreendidas entre os 16 e os 23 anos. Dez tinham 18 ou menos.
Dez dos inquiridos admitiram que começaram a beber antes dos 16, sendo que quase todos eles garantiram que não sabiam que era ilegal. Sete asseguram que nunca lhes pediram identificação. Os restantes dizem que isso já aconteceu mas esporadicamente. Dois deles referiram que só à entrada das discotecas, nunca em bares ou estabelecimentos de venda.
Nove dos entrevistados concordam com a intenção do Governo em alterar a lei, mas ficaram evidentes as dúvidas, entre quase todos eles, em relação à sua eficácia. Quando questionados sobre se têm noção dos seus limites, só um admitiu não ter.
“Vamos ter sempre os jovens a beber”
O Daniel tem 16 anos. Começou a beber aos 15 e nunca lhe pediram a identificação. Só costuma beber em dias de festa e assegura que não bebe muito, ainda que à sua volta a realidade seja outra.
“Vejo muitos jovens com 14 anos a beber muito aqui nas ruas [do Bairro Alto] e nas discotecas”, conta o Daniel, um dos que concorda com a decisão do Governo de aumentar a idade legal para o consumo de álcool.
“Um país não é bem visto quando jovens de 14 anos já bebem álcool”, argumenta este adolescente, que não tem dúvidas que a nova lei não vai resolver nada. “Vamos ter sempre os jovens a beber”, diz convicto.
O João é um deles. Gosta de cerveja e shots de “qualquer coisa”. O absinto é o preferido. Mas garante que até nem é de beber muito. “Tem de se saber medir os limites. Eu tento e por isso é que nem trago muito dinheiro para à noite”, diz a sorrir este jovem de 16 anos.
Questionado sobre a nova lei, é da opinião que “não faz muito sentido”. “Sei que é para o bem da saúde mas essa lei é um bocado estúpida para quem sabe os limites”, defende, lamentando o facto de estes pagarem “pelos putos que não sabem beber e que acabam por ir podres de bêbados para as discotecas ou ficar em comas alcoólicos”.
Este adolescente salienta que os estabelecimentos “não costumam pedir identificação” mas se isso começar a acontecer “é fácil dar a volta. Se estiver com um amigo mais velho vai ele ao bar e pede”, explica.
O Duarte, de 16 anos, sabia que era ilegal quando começou a beber há um ano. Talvez por isso não concorda com a alteração da lei. “É uma estupidez, não faz sentido. Com 16 anos chega bastante bem para começar a beber, pois a partir desta idade há mais controlo”, argumenta.
“A nova lei não vai mudar nada”
O Diogo tem 17 anos e começou a beber com “14/15 anos” sem saber que era ilegal. Ao contrário de todos os jovens inquiridos, o Diogo foi o único que assumiu que não tem noção dos seus limites. Em relação ao aumento da idade legal para os 18 anos, o Diogo não concorda “porque a partir das 16 anos as pessoas são mais tolerantes do que quando são mais novas”.
A Márcia experimentou uma bebida alcoólica pela primeira vez aos 15 e não sabia que a lei não o permitia. Hoje, com 17, garante que nunca ficou bêbada “nem vai ficar”. Sobre a nova lei afirma que “não vai resolver nada. Se as pessoas começam a beber aos 15 então agora nos 18 ainda vão ter tendência para beber ainda mais às escondidas”, justifica.
A Carina é da mesma opinião. “A nova lei não vai mudar nada”, afirma esta jovem de 18 anos, que começou a beber com 15. “Há muitos sítios que nem sequer pedem identificação. Querem é vender”, acrescenta. Ainda assim, apoia a iniciativa do Governo pois “a juventude de hoje está mais atrevida e começa a beber mais cedo”.
“Há muitos jovens com 14 e 15 anos que às vezes consomem sem ter noção dos limites e prejudicam-se por causa disso. Com 18 tem-se mais noção até onde se pode ir”, argumenta, por seu lado, o João, de 17 anos. Experimentou a primeira bebida alcoólica há um ano, mas garante que desde então só bebe “raramente”.
A Raquel tem uma opinião diferente ao defender que a lei ainda em vigor está correcta. “A partir dos 16 anos, está bom para começar a beber”, afirma. Esta jovem de 18 anos, que começou a beber há dois, critica os estabelecimentos que vendem bebidas aos menores de idade. “Nessa idade não se deve beber e ainda no outro dia vi rapazes de 14 anos irem ao Minipreço comprar álcool e não pediram bilhete de identidade. Na discoteca pedem sempre mas nos bares não costumam pedir”.
“Na má vida cedo demais”
O Paulo acaba de fazer 22 anos e começou a beber aos 14. “Eu continuo a beber para me divertir mas não gosto de ficar naquele estado todo podre. Ontem foi excepção (porque fiz anos) e foi de caixão à cova. Há sempre aquelas datas especiais em que não te controlas”, afirma entre risos.
Mas se hoje em dia tem consciência dos seus limites, já em relação ao que vê noutros jovens durante a noite é bem diferente. “Estão a entrar na má vida cedo de mais e o álcool que bebem é exagerado”, diz, salientando o facto de os jovens quererem “descobrir tudo mais cedo”.
A Tatiana, de 23 anos, tem uma opinião semelhante. “Os jovens hoje são mais rebeldes, mais exagerados e têm menos noção dos limites. Eu bebia mas nunca cheguei a um limite de ficar em comas alcoólicos como se vê em vários jovens de 15 e 16”, afirma, garantindo que “no Bairro Alto é muito fácil qualquer pessoa, até com 13/14 anos, beber sem ter de apresentar qualquer identificação”.
Os brindes são sempre uma boa desculpa para beber mais